Esta entrevista foi uma aventura. Marcada para começar ao pequeno-almoço, acabou à uma da tarde. Depois de hora e meia a falar de mudanças, de decepções e de uma futura viagem a Quelimane com Keta de Jesus, a sua actual namorada, Valdemiro José afirma que “não se revê” naquilo que fez na Bang Entretenimento onde “por influência compôs músicas para durarem três meses”.
Contudo, para dar continuidade ao sucesso “Tá-se mal” encontra-se a gravar “Papa Murroga”.
(@VERDADE) - Nota-se que existe um Valdemiro pós-Bang. Qual é o verdadeiro: o que interpretou “Menina venha que eu te quero” ou o actual…?
(Valdemiro José) - O verdadeiro Valdemiro é este. É normal que, quando se trabalha com um grupo, as influências predominem. Nesse período, e até porque estava inserido no seio de artistas virados
para o ‘showbizz’, é normal que tenha ignorado, talvez por isso, os traços que me distinguiam. Hoje trabalho com instrumentistas e, de alguma forma, isso fez com que ganhasse mais maturidade e, por outro lado, mudasse a minha visão e o meu conceito de música.
para o ‘showbizz’, é normal que tenha ignorado, talvez por isso, os traços que me distinguiam. Hoje trabalho com instrumentistas e, de alguma forma, isso fez com que ganhasse mais maturidade e, por outro lado, mudasse a minha visão e o meu conceito de música.
(@V) - Não te identificas, como músico, com o que fizeste na Bang?
(VJ) - Não me identifico de forma alguma com aquele Valdemiro da Bang. É natural que quando começamos a carreira haja esse deslumbramento, mas devo dizer que o público olha para as minhas músicas com outros olhos e agora tenho mais aceitação. Ou melhor, as minhas músicas já não duram três meses.
@V - Dizem que és o novo Stewart.
(VJ) - O novo Stewart não sei se sou, mas gostava de um dia vir a ser como ele.
(@V) - Digamos, por hipótese, se continuasses na linhagem benguiana terias alcançado o sucesso que tens hoje?
(VJ) - Acredito que não, primeiro porque não me enquadro naquilo que fazia. Por exemplo, no meu CD tem a música “Streaptease” de que, particularmente, não gosto. Até porque não faz o meu estilo, no entanto, como o público gosta, canto. Porém, no meu ponto de vista, é um ritmo muito aquém daquilo que pretendo fazer porque exclui uma vasta gama de instrumentos.
(@V) - Não te revês num espectáculo sem banda?
(VJ) - Não, mas não é uma coisa fácil de gerir no nosso mercado porque os promotores de eventos não se predispõem a pagar a banda, não têm, como dizem, recursos para custear as passagens e, nessa situação, sou obrigado a descartar, muitas vezes, certos compromissos porque não me revejo nesse tipo de actuações. Porém, tenho despesas com estúdio, vídeos e ensaios que tenho sempre de ter em conta. Por isso não excluo essa hipótese de todo.
(@V) - Admites que fazes espectáculos sem banda…
(VJ) - Poucas vezes. Por exemplo, no ano passado fiz uma data de espectáculos ao vivo em que não ganhei absolutamente nada porque tinha de ser eu a pagar à banda e até hoje faço questão de fazer isso em respeito por mim, como músico e pelo público.
(@V) - Sentes que o público, hoje, respeita muito mais a figura de Valdemiro José do que antes?
(VJ) - Sinto, tanto mais que é uma das coisas que faz com que continue a trabalhar, cada vez mais, no sentido de trazer outro tipo de mensagens nas minhas músicas.
(@V) - Olhando para os resultados alcançados na tua carreira podemos considerar a rotura com a Bang como tendo sido positiva?
(VJ) - Foi positiva porque deixei de ser o “filhinho de papá”. Hoje gravo onde quero, com os técnicos que escolho e os convidados que acho que me garantem maior retorno.
(@V) - Os managers impõem alguns ritmos?
(VJ) - De alguma forma impõem. Às vezes tens de optar por algum ritmo porque “está a bater” ou porque é o estilo de música que se pretende para um determinado espectáculo.
(@V) - A tua imagem é usada por alguma empresa?
(VJ) - Não, mas acredito que isso há-de acontecer um dia. Neste momento estou mais concentrado na minha carreira na perspectiva de criar links de espectáculos dentro e fora do país.
(@V) - Já fazes espectáculos fora do país?
(VJ) - Ainda não, embora já tenha sido contactado por via de certos promotores. No entanto, esses contactos não passam disso apesar de já ter mostrado disponibilidade para fazer espectáculos sem nenhuma contrapartida.
(@V) - Dá para viver da música?
(VJ) - Ainda não. O dinheiro que ganho é investido na própria música. Vou fazer um espectáculo hoje e cobro 15 ou 20 mil meticais e esse valor vai directo para custear um vídeo que ronda os 5000 USD. Ou seja, acumulamos para depois investir numa única componente da música.
Valdemiro, o sonhador
Uma das prioridades de VJ, no que concerne à música, é actuar num espectáculo de dimensão internacional ao lado de artistas conceituados como Yussu N’Dour, Kassave, Angelique Kidjo, entre outros. A sua maior frustração é não ser valorizado. VJ refere que no espectáculo de 20 anos de carreira de Paulo Flores, em Maputo, a organização opôs-se à sua actuação. Motivo: “diziam que não sei cantar”.
Esse episódio, para o vencedor do prémio da música mais popular do Ngoma 2009 é descrito como a maior desilusão que o mundo da música lhe proporcionou. Ainda assim, VJ não se deixou abater e, conta, fez uma das suas melhores aparições. Com o prémio que venceu no Ngoma 2009 VJ pretende levar a sua actual namorada, Keta de Jesus, a conhecer a sua terra natal.
O músico encontra-se em estúdio a finalizar uma nova música com o título “Papá Murroga”. Uma composição que tem como temática a violência doméstica e como protagonista um chefe de família que transforma, depois de se embriagar, a convivência no seio familiar num inferno.
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